O metanol é muito utilizado nas indústrias químicas como solvente na fabricação de vários produtos e também é um insumo importante para a produção de biodiesel. Nos últimos meses, as autoridades vêm identificando, em diversas partes do país, o aumento de casos de adulteração de combustível com metanol, um crime gravíssimo, tendo em vista que o produto é altamente tóxico, podendo provocar, se ingerido ou inalado, sérios problemas de saúde e até levar à morte.
Por possuir carga tributária menor que a do etanol, o metanol acaba sendo uma alternativa para os fraudadores que atuam no setor de combustível. A ANP – Agência Nacional do Petróleo –, instituição responsável pela importação do produto, está apertando o cerco e aumentando a fiscalização para combater o desvio de finalidade do metanol. O objetivo é impedir a entrada para agentes que não são idôneos e empresas de fachada.
Alguns números:
- Mais de 1.700.000 metros cúbicos de metanol foram importados no último ano
- 39 empresas foram responsáveis pela importação de metanol nos últimos 12 meses
- 21 distribuidoras de solventes e 11 produtores de biodiesel importaram metanol
Médico toxicologista alerta para alta toxicidade do metanol
O número de casos envolvendo adulteração de combustíveis com metanol está aumentando de forma alarmante em todo o país, e isso representa um agravante ainda maior, uma vez que o produto é altamente tóxico, podendo causar graves danos à saúde e até mesmo a morte.
Para entender melhor sobre como se prevenir e buscar ajuda em caso de intoxicação, o Instituto Combustível Legal (ICL) conversou com o médico Flavio Zambrone, especialista em Toxicologia e Doutor em Saúde Pública pela Unicamp e em Toxicologia Clínica e Farmacologia pela Universidade de Paris.
Zambrone, que foi professor da Faculdade de Medicina da Unicamp durante 25 anos, explica que o metanol, quando ingerido ou inalado, ou mesmo absorvido pela pele, pode provocar, inicialmente, distúrbios gastrointestinais, evoluindo para problemas neurológicos importantes, como perda da visão, devido à destruição do nervo ótico, câncer e morte.
Ele relembra um caso que aconteceu na Bahia, no final da década de 90, onde 35 pessoas morreram após ingerirem aguardente com metanol em uma festa.
Outro caso, mais recente, ocorreu em 2022, em Bogotá, na Colômbia, onde 16 pessoas morreram intoxicadas após ingerirem bebida adulterada com metanol.
Atenção à intoxicação por metanol ao abastecer
No setor de combustíveis, os efeitos da exposição prolongada ao metanol costumam aparecer em médio e longo prazos, devido à baixa dosagem do produto, mas podem provocar danos ao longo do tempo que passam despercebidos. Por isso, aponta o especialista, é importante a conscientização, inclusive dos médicos do trabalho e do sistema de saúde.
“O combustível adulterado afeta uma série de pessoas, incluindo os frentistas, os motoristas, sendo um problema de saúde pública. Existe legislação que proíbe o uso de metanol, no entanto, é um crime difícil de ser identificado, mas que deveria ser combatido devido aos riscos para a saúde e o custo que isso acarreta para o estado com o tratamento, além do custo para o futuro dessas pessoas. Seria importante fazer campanhas e alertas para a sociedade”, ressaltou.
E o risco vai além do posto! De acordo com o médico, quando, no tanque de combustível, o metanol começa a queimar, diferente do etanol, o produto libera formaldeído, que é cancerígeno. Ou seja, as pessoas que estão nas ruas também estão expostas ao perigo. Quando inalado, o metanol provoca tonteira, sensação de vertigem, dor de cabeça, náusea e vômito.
O que fazer para evitar intoxicação
De acordo com Dr. Zambrone, o melhor tratamento sempre é a prevenção, mas no caso dos frentistas, é mais complicado devido ao trabalho diário. De qualquer forma, ele orienta para que seja evitada a inalação e, se o combustível cair sobre a pele, lavar rapidamente o local afetado com água e sabão. Em casos mais graves, o melhor a ser feito é solicitar socorro médico e aguardar.
“A exposição crônica não tem tratamento específico. Infelizmente, muitas vezes não há como reverter o quadro”, destacou o médico, que afirma já ter atendido pacientes que morreram por intoxicação com metanol.
Fonte: Instituto Combustível Legal