20/02/2024 às 11h58min - Atualizada em 20/02/2024 às 11h58min

Uso excessivo de celular aumenta risco de tendinite, alerta ortopedista

Brasileiros estão entre os que mais usam o aparelho; especialistas recomendam fazer pausas e manter rotina de exercícios para evitar dores e outros problemas


Como grande parte da população, a farmacêutica Márcia Cristiane tem o costume de ficar frequentemente no celular; além disso, precisa usar o mouse do computador por uma média de cinco horas por dia. Há cerca de dois anos, ela começou a sentir incômodos na região do punho. Como passou logo, não deu atenção. Mas, ano passado, a dor retornou e ela percebeu que estava sem força para pegar objetos. Após consultar um ortopedista, recebeu o diagnóstico: está com uma tendinite e terá de fazer fisioterapia para fortalecer as estruturas corporais envolvidas.

Em âmbito mundial, os brasileiros estão entre os que mais passam tempo em frente à telinha. Em média, costumam investir cerca de 9 horas e 32 minutos diários no celular. Nesse contexto, o Brasil perde somente para a África do Sul, com uma diferença de apenas seis minutos, segundo levantamento do ElectronicsHub. Essa facilidade de ter acesso a tudo com um aparelho que cabe no bolso e pode ser carregado para qualquer lugar a qualquer hora, no entanto, pode prejudicar a saúde.

De acordo com o ortopedista Fernando Henrique de Alencar, da Hapvida NotreDame Intermédica, estudos recentes mostram que o uso repetitivo de celulares está associado a um risco de duas a três vezes maior para desenvolvimento de problemas nas mãos e nos punhos, devido à realização atividades repetitivas, o que provoca fadiga da musculatura e facilita a instalação de processos inflamatórios, as chamadas tendinites ou tenossinovites.

Médico ortopedista FErnando Alencar - Imagem: divulgação

Os especialistas alertam que pessoas que passam muito tempo por dia nos celulares ou computadores devem fazer pausas de, pelo menos, cinco minutos a cada hora. Nessas paradas, orienta Alencar, a dica é alongar e flexionar punhos e dedos, mantendo o cotovelo estendido, intercalando a cada 15 segundos. “Esses movimentos permitem que ocorra o deslizamento de tendões do punho e mão, ajudando a evitar a instalação de processos de inflamação”, explica.

O médico também ressalta a importância de fortalecer a musculatura do antebraço, do punho e da mão para evitar a tendinite de repetição. “Assim, condicionamos nossa musculatura a suportar trabalhos mais intensos com as mãos, diminuindo a ocorrência de processos inflamatórios” afirma. O ideal, recomenda, é fazer exercícios de fortalecimento de três a cinco vezes por semana.

Sinais de alerta
Dores após longos períodos de esforço repetitivo, associadas ou não a inchaço e vermelhidão, são alguns sintomas de tendinite. Esses sinais indicam que é hora de dar um tempo da telinha e repousar, evitando movimentos que provocam a dor, aconselha o ortopedista. Colocar gelo no local de três a cinco vezes ao dia, por cinco minutos, diz, também ajuda a diminuir o processo inflamatório. Entretanto, a imobilização é desaconselhada, pois pode levar à atrofia da musculatura, facilitando novos episódios de tendinite no futuro.

Já nos casos em que a imobilização é indicada, a fisioterapeuta Juliane Taiara, também da Hapvida NotreDame Intermédica, afirma que é preferível o uso de órteses, como também são chamados os imobilizadores, feitas sob medida por terapeutas ocupacionais. “Isso garante uma melhor eficácia”, diz.

Caso as dores persistam mesmo com repouso e esses cuidados, é preciso consultar um médico, que vai avaliar qual o melhor tratamento a partir da identificação de quais tendões estão acometidos.

A fisioterapia, de acordo com Taiara, é um dos recursos para melhorar o quadro, ajudando a aliviar a dor, a alongar e fortalecer punhos e mãos. “No entanto, é a etapa inicial. O alongamento e o fortalecimento devem ser realizados de forma corriqueira em pessoas que usam muito as mãos e punhos no dia a dia”, afirma.

Exercícios para fazer em casa

Para mãos e dedos

Sequência
mobilidade (Movimentos de mobilidade melhoram a hidratação das articulações, preparando o corpo e facilitando os movimentos) + alongamento > fortalecimento > relaxamento

Mobilidade
- Com as mãos fechadas, gire os punhos para todos os lados e também para dentro e para fora (30 segundos a 1 minuto para cada movimento).

Alongamento
- Estenda o braço, mantenha a palma das mãos para cima e puxe os dedos para trás, alongando toda a palma, punho e antebraço (30 segundos a 1 minuto para cada movimento).

- Com o braço totalmente esticado à sua frente, dobre o punho para baixo com a outra mão e, depois, puxe o dorso da mão em sua direção (30 segundos para cada movimento).

- Apoie o antebraço sobre uma superfície reta, deixando apenas a palma da mão para fora, e faça movimento de flexão e extensão do punho em sua amplitude máxima (repetir 20 vezes).

Fortalecimento
- Com os antebraços apoiados em uma mesa, os cotovelos afastados e um bom alinhamento da postura, aperte uma bolinha de silicone ou de borracha (2 séries de 10 repetições para cada mão).

- Envolva todos os dedos em um elástico de papelaria e faça movimentos de abrir, esticando o elástico (2 séries de 10 repetições para cada mão).

- Deixe o polegar levemente arredondado e encoste lentamente em cada um dos dedos, tocando as digitais (repetir 20 vezes).

- Com a mão aberta espalmada sobre uma superfície reta, abra o polegar em sua amplitude máxima e feche sem desencostar da superfície, fazendo movimento apenas para a lateral (repetir 20 vezes).

Relaxamento
- Massageie toda a extensão dos antebraços, punhos e mãos com uma bolinha de tênis ou borracha, fazendo movimentos circulares e/ou livres, mantendo uma pressão moderada (30 segundos a 1 minuto ou até sentir a musculatura relaxada).

Para ombros e pescoço (musculatura escapular)
- Coloque as duas mãos apoiadas atrás da cabeça e faça movimentos de “abrir” o peito, levando a cabeça para cima e os cotovelos para trás. Solte o ar enquanto expande o peitoral e inspire enquanto volta à posição inicial (10 repetições).

- Gire os braços para trás como as pás de um moinho, mantendo os cotovelos estendidos e com a cabeça acompanhando o movimento das mãos. Expanda o peitoral enquanto solta o ar (10 repetições).


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